por Rev. Jocarli A. G. Junior
Em Neemias 8, as pessoas ouviram a Palavra de Deus e choraram em arrependimento, reconhecendo quão seriamente eles e seus antepassados tinham pecado contra Deus. Mas aquele era um momento de festa e assim Neemias e os outros líderes exortaram as pessoas para não chorar, mas para se alegrar, acrescentando que “a alegria do Senhor é a nossa força” (8.10). Mas agora, dois dias depois da Festa dos Tabernáculos, o povo se reúne novamente, desta vez, em jejum, com pano de saco e terra sobre a cabeça. Uma demonstração externa de uma profunda lamentação e peso no coração pela própria iniquidade. O povo estava arrependido!
Mais uma vez, a lei do Senhor foi lida por várias horas, e em seguida, os levitas, talvez liderados por Esdras, fazem uma grande oração de confissão. Juntamente com Esdras 9 e Daniel 9, esta é uma das grandes orações de arrependimento e confissão da Bíblia. Esta oração é cheia de instrução sobre quem é Deus, quem somos, e como Deus tem graciosamente trabalhado em favor do Seu povo.
O capítulo 9 traz três lições simples, mas importantes:
I. Nós somos tão propensos a pecar
“1 No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel com jejum e pano de saco e traziam terra sobre si. 2 Os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estranhos, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais. 3 Levantando-se no seu lugar, leram no Livro da Lei do Senhor, seu Deus, uma quarta parte do dia; em outra quarta parte dele fizeram confissão e adoraram o Senhor, seu Deus” (Ne 9.1-3)
“No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel...” (v. 1) – Quando o povo se reuniu na porta das Águas era o primeiro dia do mês, quando se juntaram para ouvir a Lei do Senhor durante toda a manhã, possivelmente, por cinco horas de duração. No segundo dia, os chefes de família retornaram, e descobriram em seu estudo nos livros da Lei de Deus que não estavam mantendo a Festa dos Tabernáculos - a Festa da Colheita. Então, no dia quinze do mês, eles celebraram a Festa dos Tabernáculos – uma festa que durava sete dias. E no oitavo dia eles realizaram uma assembleia solene. Mas agora, é o vigésimo quarto dia. Houve alegria na Festa dos Tabernáculos, mas agora é um tempo para chorar. Durante um quarto do dia, eles ouviram a leitura das Escrituras - três horas, talvez. E por mais três horas, eles adoraram e confessaram seus pecados a Deus.
Na maioria das igrejas, hoje, seis horas de culto, com três horas de pregação e três horas de oração, provavelmente resultaria em alguns pedidos de demissão do Pastor, mas para o povo judeu, aquele dia, era o começo de uma nova vida para eles e sua cidade.
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“Os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estranhos, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais” (v. 2) – Finalmente, eles colocaram em prática as palavras de Esdras. As pessoas se separaram do mundo enquanto se aproximavam do Senhor (Ne 9.2; Ed 6.21). Uma separação sem devoção ao Senhor torna-se isolamento, mas a devoção sem separação é hipocrisia (ver 2Co 6.14-7.1). A nação de Israel foi escolhida por Deus para viver separado das nações pagãs ao seu redor (Lv 20.26). O apóstolo Pedro aplicou estas palavras para os crentes na igreja de hoje (1Pe 1.15; 2.9-10).
Esse chamado para se divorciarem de suas esposas de origem pagã era necessário porque o que havia sido feito sob a liderança de Esdras, 14 anos antes (Ed 10), só havia alcançado um êxito parcial. Muitos tinham se esquivado do divórcio e permanecido com suas mulheres pagãs. Talvez novos transgressores também tivessem surgido, e estivessem sendo confrontados pela primeira vez. Os esforços de Neemias para eliminar esse tipo de mistura maligna foram bem-sucedidos.
“Levantando-se no seu lugar, leram no Livro da Lei do SENHOR, seu Deus, uma quarta parte do dia...” (v. 3) – Eles leram por mais de três horas a respeito dos pecados de seus pais, e, por mais de três horas confessaram a sua participação em obras más semelhantes. A Bíblia desnuda a verdadeira condição de nossos corações diante de Deus. “... A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.12-13).
João Calvino abre o Livro Um de suas Institutas, tratando acerca do “Conhecimento de Deus”. Para ele, quando temos qualquer conhecimento de Deus, conseguimos ver quem realmente somos: “... É notório que o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão dele desça a examinar-se a si próprio. Ora, sendo-nos o orgulho a todos ingênito, sempre a nós mesmos nos parecemos justos, e íntegros, e sábios, e santos, a menos que, em virtude de provas evidentes, sejamos convencidos de nossa injustiça, indignidade, insipiência e depravação. Não somos, porém, assim convencidos, se atentamos apenas para nós mesmos e não também para o Senhor, que é o único parâmetro pelo qual se deve aferir este juízo”.
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Assim, temos que ler este capítulo e perceber que estamos olhando no espelho. Ele descreve a propensão do nosso coração!
“...em outra quarta parte dele fizeram confissão e adoraram o SENHOR, seu Deus” (v. 3) – No vigésimo quarto do mesmo mês, três semanas e meia mais tarde, um dia nacional de arrependimento foi realizado.
[3] O povo também teve tempo para confessar os seus pecados (v. 2-3) e buscar o perdão do Senhor. O Dia anual da Expiação havia passado, mas os adoradores sabiam que precisavam de uma purificação e renovação do Senhor.
Oito levitas se levantaram e expressaram seu sofrimento espiritual. Um segundo grupo de oito levitas conduziu uma oração responsiva de louvor. Aparentemente, todos eles recitaram a oração em uníssono, por isso deve ter sido escrita antes. Desde que a linguagem é semelhante à oração em Esdras 9, é bem provável que, o grande escriba e sacerdote seja o autor da oração (9:3-4).
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As pessoas não só reconheceram o seu pecado individual, mas também, entenderam que eles faziam parte de um povo ou nação e, portanto, também eram coletivamente culpados (v. 2).
Este é o oposto do que algumas pessoas fazem hoje. Quando os judeus dos dias de Neemias confessaram os pecados de seus pais, eles reconheceram a própria culpa pelos pecados de seus pais. Hoje, se as pessoas se referem aos pecados de seus pais, eles se desculpam, em vez de assumirem qualquer responsabilidade. Eles culpam seus erros em seus temperamentos ou pela maneira como foram educados.
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Há um paradoxo na vida cristã: quanto mais você anda com Deus, mais você fica ciente da depravação terrível de seu próprio coração. Não foi no início da vida cristã de Paulo, mas no fim que ele disse, “... Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm. 1:15). Ele não disse, “entre os quais eu costumava ser o maior de todos”, mas em vez disso, “Eu sou o maior de todos”. Quanto mais Paulo andava com Deus e contemplava Sua justiça perfeita, mais ele estava consciente de seu próprio pecado, ainda que em sua caminhada diária, ele estivesse crescendo em santidade. Assim, quanto mais você conhece a Deus e seu próprio coração através de Sua Palavra, mais você vai perceber o quão propenso ao pecado você realmente é.
Em uma ocasião, o grande reformador, Martinho Lutero, estava muito deprimido. Não desejava levantar-se a despeito dos apelos da família e amigos. Finalmente, sua esposa, Katie, colocou um vestido preto, parecendo uma viúva de luto. Quando Lutero percebeu, ele perguntou-lhe quem tinha morrido. Ela respondeu que Deus no céu deve ter morrido, a julgar pelo comportamento de Lutero. Sua depressão foi embora de imediato, ele sorriu e beijou a sua sábia esposa.
Você pode estar deprimido hoje - talvez devido ao seu pecado, experimentou ou talvez devido a algumas outras circunstâncias difíceis, como Lutero. Apenas lembre-se, não importa o quão quebrado você esteja, o caminho de volta ao nosso soberano Senhor, suficiente e gracioso está sempre aberto. Ele convida você a voltar para Ele.