segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

4 - Vida Efêmera e Trabalhos Notáveis

Depois de oito anos de intenso trabalho no Brasil, Simonton foi chamado à Glória. Apesar das dificuldades com a língua portuguesa, ele obteve êxito em sua missão: Recebeu oitenta pessoas por profissão de fé, organizou a primeira Igreja Presbiteriana do Brasil (1862), a primeira escola paroquial, o primeiro jornal evangélico do país (Imprensa Evangélica, 1864), criou o primeiro presbitério, o Presbitério do Rio de Janeiro[1] e o primeiro seminário[2] (1867). Além disso, deixou dezenas de sermões escritos, folhetos, traduções, além de parte de um comentário de Mateus.


Os primeiros alunos do seminário primitivo tiveram grande contribuição na proclamação do evangelho, foram eles: Antonio Bandeira Trajano (1843-1921), Miguel Gonçalves Torres (1848-1892), Modesto Perestrello Barros de Carvalhosa (1846-1917) e o único brasileiro da turma Antônio Pedro de Cerqueira Leite (1845-1883).



O Rev. Simonton faleceu no dia 9 de dezembro de 1867 em São Paulo na casa de Blackford, acometido de “febre biliosa” aos 34 anos.

Joseph M. Wilson descreve os seus últimos dias de vida:

“No domingo seguinte queixava-se ainda. O médico não estava; fora ver doentes fora. Na segunda-feira à noite passou melhor. Mas recaiu. Na quarta houve junta médica. À noite desse dia pediu que na reunião de oração semanal pedissem a Deus por ele, a fim de que pudesse suportar os sofrimentos. Na quinta-feira delirava. Sexta-feira deram-lhe um banho que trouxe certo alívio. No sábado, quando a irmã o dava por morto, o cunhado insistiu ainda em que orassem pela sua vida.
Acordou sábado bem melhor. Estava calmo; parecia natural. Sua irmã, temendo, não obstante, que o desfecho viesse, aproveitou a oportunidade desse intervalo de lucidez para fazer algumas perguntas.
- Tem algum recado para os amigos nos Estados Unidos?
- Nada de especial. Diga-Ihes que os amei até o fim.
- Alguma mensagem para o Board?
- Diga-Ihes que toquem para frente o trabalho.
- E a Igreja do Rio; que falta fazer?
- Deus levantará outro para por no meu lugar. Ele fará Sua própria obra com Seus próprios instrumentos.
E ao ver sua irmã tomada de emoção: Devemos apenas nos recostar nos braços Eternos e estar sossegados.”[3]

A Igreja do Rio de Janeiro ficou profundamente impactada com a notícia da morte de Simonton. Segundo Schneider, os crentes caíram em pranto.[4] A admiração e o respeito de todos por Simonton ficou evidente pelas palavras proferidas: “O mais brilhante ornamento de nossa Missão e seu membro mais eficiente...” disse Schneider. O Presbitério: “Dos melhores escritores de nossos dias.” O consulado americano no Rio de Janeiro: “Homem de raros dotes morais e espirituais.” “O Apóstolo”, jornal católico: “... sempre mantivemos o devido respeito por nosso ilustre adversário, e é de coração nossa tristeza pela morte do ilustre editor da Imprensa Evangélica.”[5]



[1] No sábado 16/12/1865248 organizou-se o Presbitério do Rio de Janeiro, em reunião na casa de Blackford, na Rua de São José, n° 1, em São Paulo. O Presbitério era composto por três pastores: A. G. Simonton, do Presbitério de Carlisle; A. L. Blackford, do Presbitério de Washington, e F.J.C. Schneider, do Presbitério de Ohio. Mediante proposta de Simonton, Blackford foi escolhido moderador, ficando Schneider como secretário temporário e Simonton como secretário permanente. O Presbitério do Rio de Janeiro (organizado em São Paulo), ficou sob a jurisdição do Sínodo de Baltimore. Nesse mesmo dia, o ex-padre José Manoel da Conceição (1822-1873) foi examinado quanto ao seu desejo de ser Ministro do Evangelho. No dia seguinte, à hora marcada, após a abertura da Sessão, pregou José Manoel da Conceição. Tendo o sermão aprovado. Em seguida, às 17 horas, com a parênese de Simonton, baseada em 2Coríntios 5, verso 20, o Presbitério procedeu à
ordenação do Rev. José Manoel da Conceição, o primeiro pastor brasileiro. O Presbitério passava a contar agora com quatro pastores. Ainda não havia presbíteros na Igreja Presbiteriana no Brasil. O Presbitério era formado por três igrejas, as do Rio de Janeiro, São Paulo e Brotas. Atas do Presbitério do Rio de Janeiro, p. 6. RIBEIRO, Boanerges. O Padre Protestante, 2ª ed. São Paulo: Casa Editora Presbiteriana, 1979, pp. 138-141.
[2] Em 14 de maio de 1867, o Rev. Simonton organizou o Seminário do Rio de Janeiro. O Seminário localizava-se num sobrado no Campo de Sant'Anna, 49. Na verdade, o Seminário funcionava em um dos andares do edifício alugado pela Missão, que visava concentrar ali todo o trabalho presbiteriano do Rio de Janeiro. O prédio possuía tres andares que eram divididos da seguinte maneira: no primeiro, funcionava a igreja, com um auditório para mais de quatrocentas pessoas; atrás do salão de culto, funcionava, numa sala, o depósito de tratados evangélicos e, no salão dos fundos, a escola paroquial freqüentada por mais de 70 alunos, que era dirigida pela organista da Igreja, D. Gervásia Neves, esposa de Santos Neves; no segundo andar, ficava o Seminário propriamente dito: alojamento e sala de aula. No terceiro, residiam o poeta Santos Neves e sua esposa. Os professores do Seminário eram três: o Rev. A.G. Simonton lecionava Teologia; o Rev. Charles Wagner, pastor luterano, lecionava Grego e História Eclesiástica; o Rev. F.J.C. Schneider, Ciências e Matemática. FERREIA,  Júlio Andrade. Op. cit., p. 85.
[3] WILSON, Joseph M. The Presbyterian Historical Almanack, 1868, Vol. 10. Em: Coleção Boanerges Ribeiro, p. 6-7. apud. FERREIRA, Júlio Andrade. Op. cit., p. 84.
[4] FERREIRA,  Júlio Andrade. Op. cit., p. 88.
[5] FERREIRA,  Júlio Andrade. Op. cit., p. 89.

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