Em 1998, uma revista americana trouxe em sua edição uma lista dos 40 americanos mais ricos da história. Havia 39 homens e uma mulher na lista. A americana mais rica na história dos Estados Unidos foi Hetty Green cuja fortuna quando morreu em 1916 foi calculada em $100 milhões de dólares.
Entretanto, Hetty Green ficou famosa não pela riqueza que possuía, mas pela forma mesquinha e avarenta como vivia. Ela comia mingau de aveia frio para não gastar gás de cozinha. Seu filho teve que amputar a perna, por que ela demorou tanto tempo para encontrar atendimento “gratuito” que o caso tornou-se incurável. Hetty Green era uma mulher rica e, no entanto, escolheu viver como mendiga.
Foi pensando em cristãos que vivem desta forma que o apóstolo Paulo escreveu a Epístola aos Efésios. Paulo diz no terceiro versículo de Efésios 1, que Deus “... tem nos abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo”. Mas, como podemos ter essas bênçãos? A resposta está nos versículos de 4 a 6, onde encontramos o resultado da eleição soberana de Deus. Paulo começa dizendo: “assim como nos escolheu nele...” (v. 4). A conjunção “assim” [Kathos, em grego], significa “assim como” ou “porque”, uma espécie de dobradiça entre os versículos 4 e 3, ou uma explicação. Estes versículos revelam parte do plano eterno de Deus na formação da igreja, o Corpo de Cristo.
I. A Doutrina da Eleição
4 assim como nos escolheu, nele, antes da fundação do mundo, para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e em amor
Conforme James Boice, antes de lidar com as objeções, devemos considerar três diferentes posições acerca da doutrina bíblica da eleição.[1]
A primeira posição é que a doutrina bíblica da eleição não existe.
Os arminianos ensinam que, por causa do pecado, o homem precisa do auxílio da graça divina para aceitar a Deus, porém o homem tem o poder de dizer “Não” a Deus e resistir à atuação de Sua graça.[2]
Os opositores da doutrina da eleição dizem que, ninguém é salvo por causa de algum propósito supremo. Eles até aceitam falar sobre a graça de Deus, pois o Altíssimo escolheu se revelar aos homens pecadores e forneceu um caminho de salvação através da morte de seu Filho, o Senhor Jesus Cristo. Essa é uma prova graciosa do amor de Deus. Mas, ao falar da salvação, eles dizem que Deus oferece a salvação graciosamente, mas as pessoas devem escolher essa salvação. Conforme os defensores do livre arbítrio, a Eleição simplesmente não existe.
Entretanto, a dificuldade é que, quer gostemos ou não, a Bíblia ensina a doutrina da eleição. John Stott sabiamente diz que, a doutrina da eleição de “uma revelação divina, e não uma especulação humana”.[3] Martyn Lloyd-Jones se refere a essa doutrina como “uma declaração, não um argumento”.[4]
A segunda posição é que a doutrina da eleição é bíblica, mas é uma eleição com base na presciência de Deus.
Esta é uma posição intermediária que afirma que a eleição é ensinada nas Escrituras, mas os opositores argumentam que Deus elege alguns para a salvação e suas bênçãos, mas Ele o faz com base em uma escolha, uma resposta de fé, ou algum outro bem que Ele previamente viu em algumas pessoas.
Isto é obviamente impossível. Se o que a Bíblia nos fala sobre a situação do homem em pecado é verdade, como Deus poderia ver algo de bom em qualquer pessoa ao ponto de salvá-la?
A Bíblia diz que estávamos “... mortos em nossos delitos e pecados” (Ef 2.1).
A Bíblia diz que “Não há quem busque a Deus ...” (Rm 3.11).
A Bíblia diz que “Viu o SENHOR que a maldade do homem se havia multiplicado na terra e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração” (Gn 6.5)
Se essa era a situação, como a Bíblia afirma categoricamente, então a única forma de qualquer homem ou mulher ser salvo, é por meio da escolha soberana de Deus.
A terceira posição é que a doutrina da eleição existe.
A doutrina bíblica da eleição ensina que estávamos irremediavelmente perdidos no pecado, longe de Deus e dignos da morte eterna. Em vez disso, Deus em sua misericórdia nos escolheu e, em seguida, tornou a Sua escolha eficaz. Primeiro Ele fez a nossa salvação possível através do envio do Senhor Jesus Cristo para morrer pelos nossos pecados. Então, Ele nos fez capaz de responder a Ele, enviando o Espírito Santo para abrir os nossos olhos para a verdade gloriosa do evangelho. Assim, todas as bênçãos que desfrutamos são oriundas da soberana eleição de Deus para conosco, em Jesus Cristo.
A eleição é incondicional no sentido de que a escolha de Deus não foi baseada em alguma atitude boa que Ele viu em nós, nem mesmo pelo fato de saber (presciência) que algumas pessoas “bondosas” escolheriam a Cristo. Se fosse realmente assim, seria uma negação de Sua graça, porque a salvação seria baseada em algo de bom que fizemos. Porém, a Escritura é clara ao afirmar que a salvação só é possível pela graça de Deus (Ef 2.8-9; Rm 9.11-18; 11.5-6).
As Escrituras também possuem várias metáforas para enfatizar que estávamos mortos espiritualmente (Ef 2.1), cegos (2Co 4.4), surdos (Mt 13.14-15), obscurecidos e insensíveis (Ef 4.17-19), e escravizados (Jo 8.34-36; Rm 6.6), para mostrar que, como pecadores, nós não tivemos nenhuma inclinação ou a capacidade de escolher Cristo ou crer nEle.
Quando Paulo diz que: “Deus nos escolheu” não deveríamos distorcer a Escritura afirmando que: “Nós primeiro escolhemos a Deus”.
[1] Boice, J. M. (1988). Ephesians : An expositional commentary (15). Grand Rapids, Mich.: Ministry Resources Library.
[2] O termo “arminiano” se aplica aos seguidores de James Arminius (um professor de seminário holandês). Eles apresentaram ao “Estado da Holanda” em 1610, um ano após a morte de seu líder um protesto que consistia de “cinco artigos de fé”, baseados nos ensinos de Armínio, e ficou conhecido na história como a “Remonstrance”, ou seja, “O Protesto”. Em 1618 foi convocado um Sínodo nacional para reunir-se em Dort, a fim de examinar os pontos de vista de Armínio à luz das Escrituras. Durante os sete meses de duração do Sínodo houve 154 sessões para tratar desses artigos. Após um exame minucioso e detalhado de cada ponto, feito pelos maiores teólogos da época, representando a maioria das Igrejas Reformadas da Europa, o Sínodo concluiu que, à luz do ensino claro das Escrituras, esses artigos tinham que ser rejeitados como não bíblicos. Isso foi feito por unanimidade. Além de rejeitar os cinco artigos de fé dos arminianos, o Sínodo formulou o ensino bíblico a respeito desse assunto na forma de cinco capítulos que têm sido, desde então, conhecidos como “os cinco pontos do Calvinismo”, pelo fato de Calvino ter sido grande defensor e expositor desse assunto.
[3] John R. W. Stott, God’s New Society: The Message of Ephesians (Downers Grove, Ill.: InterVarsity, 1979), 37.
[4] D. M. Lloyd-Jones, God’s Ultimate Purpose: An Exposition of Ephesians 1:1 to 23 (Grand Rapids: Baker, 1979), 86.
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