quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Nosso Grande Deus – Ne 9.1-37

propaganda blog por Rev. Jocarli A. G. Junior

Em Neemias 8, as pessoas ouviram a Palavra de Deus e choraram em arrependimento, reconhecendo quão seriamente eles e seus antepassados ​​tinham pecado contra Deus. Mas aquele era um momento de festa e assim Neemias e os outros líderes exortaram as pessoas para não chorar, mas para se alegrar, acrescentando que “a alegria do Senhor é a nossa força” (8.10). Mas agora, dois dias depois da Festa dos Tabernáculos, o povo se reúne novamente, desta vez, em jejum, com pano de saco e terra sobre a cabeça. Uma demonstração externa de uma profunda lamentação e peso no coração pela própria iniquidade. O povo estava arrependido!

Mais uma vez, a lei do Senhor foi lida por várias horas, e em seguida, os levitas, talvez liderados por Esdras, fazem uma grande oração de confissão. Juntamente com Esdras 9 e Daniel 9, esta é uma das grandes orações de arrependimento e confissão da Bíblia. Esta oração é cheia de instrução sobre quem é Deus, quem somos, e como Deus tem graciosamente trabalhado em favor do Seu povo.

O capítulo 9 traz três lições simples, mas importantes:

I. Nós somos tão propensos a pecar
“1 No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel com jejum e pano de saco e traziam terra sobre si. 2 Os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estranhos, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais. 3 Levantando-se no seu lugar, leram no Livro da Lei do Senhor, seu Deus, uma quarta parte do dia; em outra quarta parte dele fizeram confissão e adoraram o Senhor, seu Deus” (Ne 9.1-3)
“No dia vinte e quatro deste mês, se ajuntaram os filhos de Israel...” (v. 1) – Quando o povo se reuniu na porta das Águas era o primeiro dia do mês, quando se juntaram para ouvir a Lei do Senhor durante toda a manhã, possivelmente, por cinco horas de duração. No segundo dia, os chefes de família retornaram, e descobriram em seu estudo nos livros da Lei de Deus que não estavam mantendo a Festa dos Tabernáculos - a Festa da Colheita. Então, no dia quinze do mês, eles celebraram a Festa dos Tabernáculos – uma festa que durava sete dias. E no oitavo dia eles realizaram uma assembleia solene. Mas agora, é o vigésimo quarto dia. Houve alegria na Festa dos Tabernáculos, mas agora é um tempo para chorar. Durante um quarto do dia, eles ouviram a leitura das Escrituras - três horas, talvez. E por mais três horas, eles adoraram e confessaram seus pecados a Deus.

Na maioria das igrejas, hoje, seis horas de culto, com três horas de pregação e três horas de oração, provavelmente resultaria em alguns pedidos de demissão do Pastor, mas para o povo judeu, aquele dia, era o começo de uma nova vida para eles e sua cidade.[1]

“Os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estranhos, puseram-se em pé e fizeram confissão dos seus pecados e das iniquidades de seus pais” (v. 2) – Finalmente, eles colocaram em prática as palavras de Esdras. As pessoas se separaram do mundo enquanto se aproximavam do Senhor (Ne 9.2; Ed 6.21). Uma separação sem devoção ao Senhor torna-se isolamento, mas a devoção sem separação é hipocrisia (ver 2Co 6.14-7.1). A nação de Israel foi escolhida por Deus para viver separado das nações pagãs ao seu redor (Lv 20.26). O apóstolo Pedro aplicou estas palavras para os crentes na igreja de hoje (1Pe 1.15; 2.9-10).

Esse chamado para se divorciarem de suas esposas de origem pagã era necessário porque o que havia sido feito sob a liderança de Esdras, 14 anos antes (Ed 10), só havia alcançado um êxito parcial. Muitos tinham se esquivado do divórcio e permanecido com suas mulheres pagãs. Talvez novos transgressores também tivessem surgido, e estivessem sendo confrontados pela primeira vez. Os esforços de Neemias para eliminar esse tipo de mistura maligna foram bem-sucedidos.

“Levantando-se no seu lugar, leram no Livro da Lei do SENHOR, seu Deus, uma quarta parte do dia...” (v. 3) – Eles leram por mais de três horas a respeito dos pecados de seus pais, e, por mais de três horas confessaram a sua participação em obras más semelhantes. A Bíblia desnuda a verdadeira condição de nossos corações diante de Deus. “... A palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do coração. E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele a quem temos de prestar contas” (Hb 4.12-13).

João Calvino abre o Livro Um de suas Institutas, tratando acerca do “Conhecimento de Deus”. Para ele, quando temos qualquer conhecimento de Deus, conseguimos ver quem realmente somos: “... É notório que o homem jamais chega ao puro conhecimento de si mesmo até que haja antes contemplado a face de Deus, e da visão dele desça a examinar-se a si próprio. Ora, sendo-nos o orgulho a todos ingênito, sempre a nós mesmos nos parecemos justos, e íntegros, e sábios, e santos, a menos que, em virtude de provas evidentes, sejamos convencidos de nossa injustiça, indignidade, insipiência e depravação. Não somos, porém, assim convencidos, se atentamos apenas para nós mesmos e não também para o Senhor, que é o único parâmetro pelo qual se deve aferir este juízo”.[2]

Assim, temos que ler este capítulo e perceber que estamos olhando no espelho. Ele descreve a propensão do nosso coração!

“...em outra quarta parte dele fizeram confissão e adoraram o SENHOR, seu Deus” (v. 3) – No vigésimo quarto do mesmo mês, três semanas e meia mais tarde, um dia nacional de arrependimento foi realizado.[3] O povo também teve tempo para confessar os seus pecados (v. 2-3) e buscar o perdão do Senhor. O Dia anual da Expiação havia passado, mas os adoradores sabiam que precisavam de uma purificação e renovação do Senhor.

Oito levitas se levantaram e expressaram seu sofrimento espiritual. Um segundo grupo de oito levitas conduziu uma oração responsiva de louvor. Aparentemente, todos eles recitaram a oração em uníssono, por isso deve ter sido escrita antes. Desde que a linguagem é semelhante à oração em Esdras 9, é bem provável que, o grande escriba e sacerdote seja o autor da oração (9:3-4).[4]

As pessoas não só reconheceram o seu pecado individual, mas também, entenderam que eles faziam parte de um povo ou nação e, portanto, também eram coletivamente culpados (v. 2).
Este é o oposto do que algumas pessoas fazem hoje. Quando os judeus dos dias de Neemias confessaram os pecados de seus pais, eles reconheceram a própria culpa pelos pecados de seus pais. Hoje, se as pessoas se referem aos pecados de seus pais, eles se desculpam, em vez de assumirem qualquer responsabilidade. Eles culpam seus erros em seus temperamentos ou pela maneira como foram educados.[5]

Há um paradoxo na vida cristã: quanto mais você anda com Deus, mais você fica ciente da depravação terrível de seu próprio coração. Não foi no início da vida cristã de Paulo, mas no fim que ele disse, “... Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm. 1:15). Ele não disse, “entre os quais eu costumava ser o maior de todos”, mas em vez disso, “Eu sou o maior de todos”. Quanto mais Paulo andava com Deus e contemplava Sua justiça perfeita, mais ele estava consciente de seu próprio pecado, ainda que em sua caminhada diária, ele estivesse crescendo em santidade. Assim, quanto mais você conhece a Deus e seu próprio coração através de Sua Palavra, mais você vai perceber o quão propenso ao pecado você realmente é.

Em uma ocasião, o grande reformador, Martinho Lutero, estava muito deprimido. Não desejava levantar-se a despeito dos apelos da família e amigos. Finalmente, sua esposa, Katie, colocou um vestido preto, parecendo uma viúva de luto. Quando Lutero percebeu, ele perguntou-lhe quem tinha morrido. Ela respondeu que Deus no céu deve ter morrido, a julgar pelo comportamento de Lutero. Sua depressão foi embora de imediato, ele sorriu e beijou a sua sábia esposa.

Você pode estar deprimido hoje - talvez devido ao seu pecado, experimentou ou talvez devido a algumas outras circunstâncias difíceis, como Lutero. Apenas lembre-se, não importa o quão quebrado você esteja, o caminho de volta ao nosso soberano Senhor, suficiente e gracioso está sempre aberto. Ele convida você a voltar para Ele.

II. Deus é tão rico em misericórdia.
“5 Os levitas Jesua, Cadmiel, Bani, Hasabneias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor, vosso Deus, de eternidade em eternidade. Então, se disse: Bendito seja o nome da tua glória, que ultrapassa todo bendizer e louvor. 6 Só tu és Senhor, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora. 7 Tu és o Senhor, o Deus que elegeste Abrão, e o tiraste de Ur dos caldeus, e lhe puseste por nome Abraão” (Ne 9.5-7)
Neemias 9 é composto por uma grande oração de confissão feita pelos levitas (v. 5-38). Mas é também uma oração que conduz os pensamentos dos ouvintes à bondade e o poder de Deus e os prepara para um último apelo por misericórdia em sua condição angustiante.[6]

A oração dos levitas é uma das mais longas na Bíblia. Ela começa com uma confissão da grandeza de Deus e Seu nome glorioso, Suas obras criativas, Sua aliança com Abraão e a terra prometida a Israel.[7] Porém, a abundante misericórdia de Deus é o tema dominante nesta oração.

Os levitas começam a oração exaltando a Deus (9.5), e então, prosseguem onde a Bíblia inicia, com Deus como o Criador onipotente de tudo, que dá vida a todos os seres vivos. Todos os anjos curvam-se diante dEle (9.6). Deus escolheu Abrão, tirou-o de Ur dos Caldeus, e lhe deu o nome de Abraão (9.7, a única Referência do Antigo Testamento fora de Gênesis). Deus fez uma aliança com Abraão para lhe dar e seus descendentes a terra de Canaã (9.8). Deus entregou o Seu povo a escravidão no Egito e os libertou e os guardou durante a caminhada no desrto (9.9-15). Note que Deus é o sujeito e o iniciador ao longo destes versos.

A oração contém três partes principais:

1. A obra de Deus na criação (v. 5-6). “Só tu és SENHOR, tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela há, os mares e tudo quanto há neles; e tu os preservas a todos com vida, e o exército dos céus te adora” (v. 6). Os levitas estavam mais próximos da Escritura do que muitos estudiosos contemporâneos. Hoje, os capítulos iniciais de Gênesis são um campo de batalha para as teorias da origem: evolução, evolução teísta, a teoria do intervalo, criacionismo de seis dias e criacionismo progressivo. Essas teorias devem ser tratadas em seu devido lugar e no momento adequado. Mas essas teorias não são o que Gênesis 1 e 2 são. Esses capítulos tratam da natureza de Deus, o seu poder e bondade, e sobre o que o homem deve a Deus como seu Criador.[8] Neemias 9.5-6 reflete essa perspectiva.

2. Uma revisão da história de Israel (v. 7-31). A segunda parte da oração é uma revisão da história de Israel. Séculos antes, Moisés havia alertado aos hebreus para não se esquecerem de Deus (Dt 8). Infelizmente, a nação não agradeceu a Deus em tempos de bênção, mas também, eles eram rápidos para buscá-Lo em tempos de sofrimento (Sl 105-106). Esse padrão trágico é visto em todas as fases da história de Israel.


Formando a nação (Ne 9.7-18).
Deus graciosamente escolheu Abraão e o tirou de uma terra idólatra, chamada Ur dos caldeus (Js 24.2-3). Em seguida, Deus mudou seu nome de Abrão (“pai exaltado”) para Abraão (“pai de muitos”), porque Deus havia prometido fazer dele uma grande nação (Gn 12.1-3; 17.1-8). Embora Abraão tivesse lapsos ocasionais de fé, por um século, ele confiou no Senhor e andou em obediência à Sua vontade. Sua fé obediente foi especialmente evidente quando ele teve coragem de atender a voz de Deus e entregar o próprio filho Isaque para ser sacrificado (Gn 22; Hb 11.17-19).

O próximo parágrafo reconta os acontecimentos do Êxodo de forma breve (v. 9-12) e, novamente, Deus é o sujeito de cada ação: (1) “Viste a aflição de nossos pais no Egito”, (2) “e lhes ouviste o clamor junto ao mar Vermelho”, (3) “Fizeste sinais e milagres contra Faraó e seus servos”, (4) “porque soubeste que os trataram com soberba”, (5) “e, assim, adquiriste renome, como hoje se vê”, (6) “Dividiste o mar perante eles”, (7) “lançaste os seus perseguidores nas profundezas”, (8) “Guiaste-os, de dia, por uma coluna de nuvem e, de noite, por uma coluna de fogo”. Além disso, estas declarações revelam também os atributos de Deus. Elas mostram que ele é onisciente (“Viste a aflição de nossos pais”), todo-poderoso (“Fizeste sinais e milagres contra Faraó e seus servos”), justo (“lançaste os seus perseguidores nas profundezas”), e misericordioso, tendo em vista que, esse é um relato de libertação.[9]

Entretanto, em Neemias 9.16-18, os levitas nos mostram como a nação respondeu a tudo o que Deus tinha feito por eles: Eles se recusaram a ceder à autoridade dele (“endureceram a cerviz”), a escutar a Sua Palavra (“não deram ouvidos”), ou obedecer à Sua vontade. Em Cades-Barnéia, eles tentaram tomar o assunto em suas próprias mãos e nomear um novo líder para levá-los de volta ao Egito (v. 17; Nm 14.1-5). Quando Moisés estava no monte com Deus, as pessoas fizeram e adoraram um ídolo (Ne 9.18; Êx 32). Moisés intercedeu pelo povo, e Deus graciosamente os perdoou.

Como essas pessoas deram as costas para Deus, depois de tudo o que Ele havia feito por Eles? Não é essa também a nossa reação diante da graça de Deus muitas vezes?

Levando a nação (Ne 9.19-22).
Durante os quarenta anos de disciplina de Israel no deserto, a velha geração morreu e uma nova geração nasceu, mas Deus nunca abandonou seu povo. Ele os conduziu por uma nuvem e uma coluna de fogo, ensinou-lhes a Palavra, forneceu-lhes as necessidades, e deu-lhes a vitória sobre seus inimigos. Deus sempre cumpre Suas promessas e Seus propósitos.
Todavia, os judeus se esqueceram dos feitos gloriosos que Deus tinha em mente para a nação. Se tivessem meditado sobre as promessas e propósitos do Altíssimo (Gn 12.1-3; Êx 19.1-8), não teriam vontade de voltar ao Egito ou se misturar com as nações ímpias ao seu redor.[10] Israel era um povo que tinha muitos privilégios, mas, não aceitava a vontade de Deus plenamente para suas vidas.

Corrigindo a nação (Ne 9.23-30).
Deus prometeu multiplicar o seu povo, e Ele manteve sua promessa (Gn 22.17). Ele também prometeu dar-lhes uma boa terra, e Ele cumpriu essa promessa (Gn 13.14-18; 17.7-8). Era uma “terra fértil”, e Israel tornou-se “pessoas gordas” (nutridas, satisfeitas), e isso levou à sua queda (Dt 32.15). As advertências de Moisés foram ignoradas (Dt 8). Israel se encantava com a grande bondade de Deus, mas eles não se deliciavam no Senhor. Como o filho pródigo (Lc 15.11-24), eles queriam as riquezas do Pai, mas não a vontade do Pai.[11]

Uma vez na terra, Israel desfrutou de paz durante os dias de Josué e os anciãos que haviam servido com ele, mas quando esses líderes piedosos morreram, a nova geração se afastou do Senhor (Jd 2.6-15). Deus os disciplinou, de modo que gritaram por socorro, e Deus levantou libertadores para resgatá-los. Em seguida, eles andavam nos caminhos de Deus, mas logo voltavam ao pecado, e o ciclo se repetia. O livro de Juízes registra a triste história de como Deus disciplinava o Seu povo em sua própria terra, permitindo que seus vizinhos pagãos os dominassem.

Os pecados de Israel, finalmente, tornaram-se tão repugnantes a Deus que Ele decidiu discipliná-los longe de sua terra. Ele usou os Assírios para destruir o Reino do Norte, e então levantou os babilônios para levar o reino do sul cativo (Judá) e para destruir Jerusalém e o templo.

A disciplina de Deus é prova do Seu amor (Hb 12.1-11). No entanto, ao lado dessa cacofonia de vozes rebeldes, Deus continuou a falar calmamente e mostrar Sua misericórdia. No verso 31 está registrado: “Mas, pela tua grande misericórdia, não acabaste com eles nem os desamparaste; porque tu és Deus clemente e misericordioso” (Ne 9.31).

Agora, depois de tudo o que vimos até aqui, o melhor de tudo é saber que Deus estava sempre lá. Ele trabalhou na história, Ele é o Senhor da História. O relato de Neemias 9, não foi meramente um ajuntamento de nomes, datas, fatos e lugares como uma aula de história, mas os atos graciosos de Deus na história que estavam sendo contados.[12]


III. O Arrependimento deve marcar nossa vida
“32 Agora, pois, ó Deus nosso, ó Deus grande, poderoso e temível, que guardas a aliança e a misericórdia, não menosprezes toda a aflição que nos sobreveio, a nós, aos nossos reis, aos nossos príncipes, aos nossos sacerdotes, aos nossos profetas, aos nossos pais e a todo o teu povo, desde os dias dos reis da Assíria até ao dia de hoje. 33 Porque tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste, e nós, perversamente” (Ne 9.32-33).
Deus foi bom para com o Seu povo quando eles não foram bons para com Deus. Ele pacientemente enviou-lhes profetas para ensiná-los e exortá-los, mas a nação se recusou a ouvi-Lo (2Cr 36.14-21). Ele foi misericordioso ao perdoá-los quando eles clamavam por socorro, e Ele foi longânimo quando eles repetidamente se rebelaram contra a Sua Palavra (Êx 32.10; Nm 14.11-12), mas Ele misericordiosamente os poupou. Em Sua misericórdia, Deus não nos dá o que merecemos, e na sua graça, Ele nos dá o que não merecemos.[13]

“Porque tu és justo em tudo quanto tem vindo sobre nós; pois tu fielmente procedeste, e nós, perversamente...” (v. 33) – O verdadeiro arrependimento aceita a responsabilidade para o pecado e não culpa a Deus. Note que os levitas usaram o pronome “nós” e não “eles”. Enquanto oravam, eles se identificaram com a nação e reconheceram sua própria culpa. Neemias orou da mesma forma no início do livro (1.6-7).

“Eis que hoje somos servos; e até na terra que deste a nossos pais, para comerem o seu fruto e o seu bem, eis que somos servos nela” (v. 36) – Os levitas reconheceram a grandeza e a bondade de Deus, e agora, com base na sua graça, pediram-lhe um novo começo para a nação. Eles não podem mudar a servidão em que estavam, mas eles poderiam entregar-se a um Mestre maior e buscar a Sua ajuda.

Israel merecia tudo o que tinham experimentado. Assim, naquele momento, mesmo que estivessem vivendo na terra que Deus havia prometido a seus pais, eles viviam como escravos uma nação estrangeira. Os impostos persas consumiam grandes porções de seus produtos e gados (9.32-37).[14] Sendo escravos significava que eles tinham que pagar impostos para a Pérsia. A oração dos levitas termina com uma confissão melancólica de sua grande angústia.[15]

“Por causa de tudo isso, estabelecemos aliança fiel e o escrevemos; e selaram-na os nossos príncipes, os nossos levitas e os nossos sacerdotes” (v. 38) – Os líderes civis, religiosos (levitas e sacerdotes), e todas as pessoas concordaram em colocar os seus selos a um acordo por escrito de que eles iriam obedecer às prescrições da Lei de Moisés (cf. v 29). A lista começa com Neemias, que mais uma vez foi um excelente exemplo para o povo.

Diante de tudo isso, o que precisamos fazer?[16] A resposta é claramente indicado em 2Crônicas: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e me buscar, e se converter dos seus maus caminhos, então, eu ouvirei dos céus, perdoarei os seus pecados e sararei a sua terra” (2Cr 7.14).

1. Precisamos nos humilhar. Por natureza, não somos humildes. É somente quando estamos diante de Deus que reconhecemos quem somos de fato, criaturas pecadoras e rebeldes.

2. Devemos orar. Nós naturalmente não oramos. Por quê? Porque nós acreditamos que somos auto-suficientes. É por isso que Deus muitas vezes tem de nos levar ao fundo do poço. Muitas vezes, são apenas nas profundezas da vida, quando tudo está desmoronando ao nosso redor, que estamos dispostos a voltar para Deus e clamar por socorro.

3. Devemos buscar a face de Deus. Para buscar a face de Deus significa buscar o Seu favor e não o favor do mundo e buscar Sua vontade e não a nossa. Para buscar a face de Deus significa uma mudança radical no uso de nosso tempo, talentos, recursos e estilo de vida.

4. Devemos retornar dos nossos maus caminhos. Nada é mais difícil do que se arrepender. Se arrepender é andar na contramão de nossa natureza pecaminosa, mas é necessário para a felicidade pessoal e a bênção de Deus. A promessa é que, se nos arrependermos dos nossos pecados, então Deus vai ouvir do céu (ele nunca faz ouvidos surdos ao arrependido), perdoará nossos pecados (o quanto precisamos dele), e sarará a nossa terra.


Conclusão:
John MacaArthur estava certo quando escreveu: “A igreja hoje é frequentemente culpada de fornecer aos crentes uma armadura de papel de bons conselhos, programas, atividades, técnicas e métodos, quando o que eles precisam é a armadura divina de uma vida santa. Nenhum programa, método ou técnica pode trazer plenitude e felicidade para o crente que não esteja disposto a enfrentar e abandonar o seu pecado”.[17]

O ponto central de Neemias 9 não são muros, inimigos de Deus, um grande líder, nem mesmo as pessoas de Deus. O ponto focal é o próprio Deus. A leitura pública da Palavra de Deus (Neemias 8) quebrantou os corações dos construtores cansados ​dos muros. O resultado foi que os ouvintes lembraram da grandeza de Deus e da sua própria incapacidade de viver de forma adequada para a Sua glória.

Por que Deus permitiu que essa história fosse registrada novamente? Por que precisamos ler e ouvir a história do povo de Israel e sua rebeldia diante do Senhor?  Do estudo de Neemias 9, podemos ganhar coragem por saber que Deus está ativo na história.[18] Além disso, outra importante lição é nos lembrar de que servimos a um Deus amoroso. Que Ele sempre esteve lá e sempre estará lá. Precisamos ser lembrados de que há um Deus amoroso e gracioso que cuida de nossa vida.

O comentarista bíblico JC Ryle, conta a história de uma mãe cuja filha fugiu e viveu uma vida de pecado. Por algum tempo, ninguém sabia onde ela estava, mas finalmente ela retornou para casa e voltou-se para Cristo em arrependimento. Alguém perguntou a mãe o que ela tinha feito para trazer a filha de volta e ela respondeu: “Eu orei por ela dia e noite”. Mas isso não foi tudo. Ela também disse que, sempre deixou a porta da frente destrancada, mesmo à noite. Ela não queria que a filha ao voltar para casa no meio da noite, encontrasse a porta trancada. Quando a menina chegou em casa, tentou abrir a porta, encontrou-a aberta, e entrou, para nunca mais sair novamente.
Essa porta é uma bela imagem do coração de Deus para com os pecadores. Ela está aberta para você, se você voltar para Ele (1Jo 1.9).


[1] Wiersbe, W. W. (1996). Be Determined. “Be” Commentary Series (107). Wheaton, IL: Victor Books.
[2] CALVINO, João. As Institutas da Religião Cristã. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 48.
[3] Packer, J. I. (1995). A passion for faithfulness: Wisdom from the book of Nehemiah. Wheaton, IL: Crossway Books.
[4] Smith, J. E. (1995). The Books of History. Old Testament Survey Series (Ne 9.1–4). Joplin, MO: College Press.
[5] Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (100). Grand Rapids, MI: BakerBooks.
[6] Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (100). Grand Rapids, MI: BakerBooks.
[7] Smith, J. E. (1995). The Books of History. Old Testament Survey Series (Ne 9.5–15). Joplin, MO: College Press.
[8] Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (101). Grand Rapids, MI: BakerBooks.
[9] Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (102). Grand Rapids, MI: BakerBooks.
[10] Wiersbe, W. W. (1996). Be Determined. “Be” Commentary Series (112–113). Wheaton, IL: Victor Books.
[11] Wiersbe, W. W. (1996). Be Determined. “Be” Commentary Series (113). Wheaton, IL: Victor Books.
[12] Fleming, J. L. (2005; 2005). Rebuilding the Wall (Ne 9.1–38). James L. Fleming.
[13] Wiersbe, W. W. (1996). Be Determined. “Be” Commentary Series (115). Wheaton, IL: Victor Books.
[14] Smith, J. E. (1995). The Books of History. Old Testament Survey Series (Ne 9.32–37). Joplin, MO: College Press.
[15] Walvoord, J. F., Zuck, R. B., & Dallas Theological Seminary. (1985). The Bible Knowledge Commentary: An Exposition of the Scriptures (Ne 9.32–37). Wheaton, IL: Victor Books.
[16] Boice, J. M. (2005). Nehemiah: An expositional commentary (104). Grand Rapids, MI: BakerBooks.
[17] MacArthur, J. (2001). Nehemiah: Experiencing the Good Hand of God. MacArthur Bible Studies (92–93). Nashville, TN: W Publishing Group.
[18] BARBER, Cyril J. Neemias e a dinâmica da liderança eficaz. São Paulo: Editora Vida, 1991, p. 120.










































































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