quarta-feira, 20 de julho de 2011

Igrejas Missionais ou Hedonismo Religioso?

Jonathan Edwards escreveu: “A importância primordial do pastor é ser um pregador expositivo”.[1] No entanto, observa-se uma grande confusão nas igrejas “emergentes” a respeito da pregação bíblica. A pregação expositiva tem sido sufocada pelo travesseiro do pragmatismo! Lamentavelmente, a pressão por resultados tem levado muitos ministros a sacrificarem a centralidade da pregação bíblica sobre o altar centrado no homem do pragmatismo.[2]
No livro “Como preparar mensagens para transformar vidas” do Pastor Batista Carlito Paes é possível encontrar essa mudança de foco. Paes relata sua caminhada durante nove anos como “pregador e pastor consagrado” e sua fidelidade a pregação expositiva. Mas, um belo dia, ao encontrar-se com um amigo na cidade de Guarapari - Espírito Santo, segundo ele, “Deus lhe concedeu uma nova visão” ao ponto de transformar a sua vida.
Paes atribui a sua nova perspectiva da exposição bíblica em decorrência de um seminário que, por indicação de um amigo, conheceu e participou na igreja de Saddleback, Califórnia, ministrado pelo pastor Rick Warren. Segundo ele, foram apenas quatro dias; mas o suficiente para mudar o seu ministério de pregação.
O seu livro, na realidade, nada mais é do que uma cópia resumida dos princípios desenvolvidos pelo Pastor Rick Warren em “Uma Igreja com Propósitos” e boa parte foi extraída da apostila do seminário “How to Communicate to Change Lives Teaching and Preaching that Make a Difference”, da Saddleback Church.
Mas, como você provavelmente já ouviu, “uma meia-verdade disfarçada de toda a verdade se torna uma mentira completa”.[3]

Um Pastor com Propósitos
Richard Duane ou Rick Warren (nasceu em 28 de janeiro de 1954) é pastor e fundador da Igreja de Saddleback na Califórnia. “Rick” como prefere ser chamado, é mais conhecido pelos seus livros: “Uma Igreja com Propósitos” e “Uma Vida com Propósitos”. Em 1980, após concluir o curso de teologia no Seminário Batista do Sudoeste (Southwestern Baptist Theological Seminary) na cidade de Fort Worth, no Texas, Rick Warren mudou-se com sua esposa para o sul da Califórnia a fim de iniciar uma igreja. Depois de 15 anos, a Igreja Saddleback que iniciara na sala de estar de sua casa tornou-se a Igreja, entre os batistas, como a que mais cresce nos Estados Unidos. Hoje, a média de freqüência no final de semana é superior a quinze mil pessoas.
No prefácio de sua obra, Warren descreve que a igreja deve “olhar para as ondas espirituais” do crescimento. Segundo ele, o trabalho dos líderes, assim como os surfistas experientes é “o de reconhecer a onda do Espírito de Deus e pegá-la. Não é nossa responsabilidade criar as ondas, mas sim, reconhecer como Deus está atuando no mundo e unir-se a Ele nessa jornada”. Em seguida ele diz que as igrejas não foram ensinadas sobre as habilidades necessárias para pegar as ondas e por isso, “estamos perdendo as ondas espirituais que podem trazer reavivamento, saúde espiritual e crescimento explosivo de nossas igrejas”.[4]
É interessante observar o que Jay Adams em seu livro Preaching with Purpose, também escreveu a respeito das ondas, porém em uma perspectiva totalmente diferente. Adams declarou: “É tarefa do pregador manter os olhos atentos sobre o mar, não para que possa surfar sobre qualquer onda que surgir, mas para que ele consiga manter o equilíbrio apesar de muitas vezes, em face das ondas atuais ameaçarem engolir sua congregação.[5]
Rick Warren ensina aos leitores sobre como alcançar uma mega igreja e para isso, ele se utiliza de textos isolados e fora do contexto. De acordo com Warren, se alguém deseja atrair uma multidão incrédula, deve-se seguir o exemplo de Jesus, amar as pessoas, atender suas necessidades, e ensiná-los de forma prática e interessante. Conforme Warren, este princípio também foi ensinado por Paulo em sua carta aos Coríntios:
“Em 1Coríntios 14. “No versículo 23, Paulo mandou que o uso de línguas fosse limitado em adorações públicas. Qual é a razão disso? Falar em línguas parece loucura aos não-crentes. Paulo não disse que as línguas eram loucura, somente que pareciam loucura para os não-crentes... O que Paulo está querendo dizer é que devemos estar dispostos a ajustar nossas práticas de adoração quando não-crentes estão presentes. Deus nos diz para sermos sensíveis as dificuldades deles em nossos cultos. Fazer um culto sensível aos que não conhecem a Deus é um mandamento bíblico”.[6]

Para ele, o método pode ser diferente, contanto que a mensagem não seja comprometida. “Ser sensível aos não-crentes não limita o que você diz, mas, sim, como você fala... Os “sem-igreja” não estão pedindo para que diluamos a mensagem. Eles esperam ouvir a Bíblia quando vem para a igreja”.[7]
Mais adiante, Warren recomenda a necessidade de se fazer um programa semanal de adoração separado e projetado exclusivamente para atrair os incrédulos. “Desenvolva um culto de adoração para edificar os crentes e outro culto para evangelizar os “sem-igreja” trazidos pelos seus membros”.[8] O culto deve ser tão atraente e relevante para os “sem-igreja” que os membros da igreja devem ficar “ansiosos para compartilhá-lo com as pessoas”. Além do mais, Warren esclarece que o estilo de música deve ser o preferido pelo público-alvo, e a pregação deve concentrar-se nas passagens que não exigem conhecimento anterior e que “mostram os benefícios do conhecimento de Cristo”. Em outras palavras, o analfabetismo bíblico deve reinar. As pessoas entram na igreja analfabetas e saem do mesmo jeito.
Na realidade, para Warren, a igreja deve relembrar com freqüência quem é o seu público alvo. Para a igreja de Saddleback o alvo a ser atingido é o que Warren chama de “Saddleback Sam e sua esposa Samantha”. Isto é, uma vez identificado o alvo, “ele vai determinar os vários componentes de seu culto: a música, o tema das mensagens, testemunhos, expressões artísticas e muito mais”.[9] Neste caso, o culto é determinado pelo “gosto” do cliente, o adorador.
O desejo desenfreado por um grande rebanho faz com que as igrejas tenham a tendência de se adaptar ao “mercado”. As pessoas “não se convertem – elas escolhem”. Por esse padrão, as igrejas mais bem-sucedidas “são aquelas que se parecem com um shopping center suburbano”.[10]
Mais à frente, Warren declara que a igreja deve criar uma atmosfera atraente. Pois a atmosfera influencia definitivamente o acontece no culto. “Ela pode dar o seu propósito ou ir contra aquilo que você está querendo alcançar”.[11] Acho que devemos deixar a cultura determinar o estilo de culto... Paulo disse: “Fiz-me fraco para com os fracos, com o fim de ganhar os fracos. Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns” (1Co 9.22). Isto é, se você está na Califórnia, você deve ter uma igreja na cultura da Califórnia. Se você estiver em Ohio, você deve ter uma igreja com cultura de Ohio. Se você estiver no Mississipi, você deve ter uma igreja com a cultura do Mississipi”.[12] Warren é conhecido por pregar de sandálias e camisa havaiana. Além disso, ele gosta de usar uma banda de rock tocando músicas cristãs contemporâneas. Seus sermões raramente tratam sobre o pecado e a necessidade de arrependimento, ao contrário, são palavras sobre como vencer a angústia, casamentos problemáticos e estresse.
De acordo com Rick Warren, Jesus sempre tinha boas notícias para compartilhar e o povo desejava ouvi-las. Para ele, Jesus falava com uma linguagem simples, não usava jargões teológicos. Ele gostava de contar histórias para que as pessoas pudessem entender. Quando Jesus pregou o seu primeiro sermão em Nazaré, leu um texto de Isaías, para anunciar qual seria a sua agenda de pregação: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para evangelizar aos pobres. Enviou-me para apregoar liberdade aos cativos, da vista aos cegos, pôr em liberdade os oprimidos, e anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.18,19).
Todavia, nos Evangelhos (Mateus 15, Marcos 4 e 7, Lucas 8 e João 10), e outras passagens, os discípulos não entenderam a parábola e suplicaram ao Senhor por auxílio. O próprio Senhor Jesus nos dá a resposta em Mateus 13.10-13: “Então, se aproximaram os discípulos e lhe perguntaram: Por que lhes falas por parábolas? Ao que respondeu: Porque a vós outros é dado conhecer os mistérios do reino e  dos céus, mas àqueles não lhes é isso concedido. Pois ao que tem se lhe dará, e terá em abundância; mas, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado. Por isso, lhes falo por parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem”. Em Lucas 8.9-10: “E os seus discípulos o interrogaram, dizendo: Que parábola é esta? Respondeu-lhes Jesus: A vós outros é dado e  conhecer os mistérios do reino de Deus; aos demais, fala-se por parábolas, para que, vendo, não vejam; e, ouvindo, não entendam”.
John MacArthur Jr, com inteireza relata o pecado das igrejas modernas: “A igreja imita quase todas as modas da sociedade secular. Rock metálico, rap, grafitagem, break, musculação, jazz, coreografia e humorismo, todos foram adicionados ao repertório evangélico... muitos acham que sem alguns chamariscos a mensagem do evangelho não atingirá as pessoas e que, se não nos acomodarmos à moda de nossos dias, não devemos esperar que o evangelho seja eficaz”.[13] MacArthur estava certo, essas atitudes nada mais são do que hedonismo à guisa da religião.

Rev. Jocarli A. G. Junior




[1] Turnbull, Ralph. Jonathan Edwards: The Preacher. Grand Rapids: Baker Book House, 19958, p. 114.
[2] Lawson, Steven J. Famine in the Land. Chicago: Moody Publishers, 2003, p. 19.
[3] J. I. Packer, Introduction to Owen's Death of Death. In: http://www.all-of-grace.org/pub/others/deathofdeath.html
[4] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 18-19.
[5] ADAMS, Jay. Preaching With Purpose. Zondervan Publishing House, Grand Rapid, Michigan, 1982, p. 14.
[6] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 238-239.
[7] Ibidem, p. 240.
[8] Ibidem, p. 241.
[9] Ibidem, p. 246.
[10] Citado por James Montgomery Boice, “On My Mind: Salad Bar Sactuaries”, Modern Reformation, setembro/outubro de 1999, p. 52,
[11] WARREN, Rick. Uma Igreja com Propósitos. São Paulo: Editora Vida, 2002, p. 263.
[12] WARREN, Rick. Why Do You Gear Your Weekend Services Toward Seekers? Em: http://www.pastors.com/blogs/ministrytoolbox/archive/2001/03/21/Why-Do-You-Gear-Your-Weekend-Services-Toward-Seekers_3F00_.aspx - Acessado em 22/05/2011.
[13] MACARTHUR, John Jr. Nossa Suficiência em Cristo. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1995, p. 125.

4 comentários:

  1. Os livros do Rick Warrem não passam da chamada alto ajuda cristã. É uma pena que muitas denominações no mundo inteiro os tem adotado como prática. Isso não é uma onda é um tsuname.
    Deus te abençõe pela claresa e entendimento expresso sem dificuldade, parabéns.

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  2. Convidamos vocês para nossa próxima programação, o Fé e Razão com o Pr. Alfredo de Souza, com o tema \"Evangelizando para a glória de Deus\", ocorrerá nos dias 30/07 e 01/08, na Igreja Presbiteriana de Brotas. Para aqueles que não poderão ir, será possível assistir online pelos canais: http://www.ipb.org.br/tv12/ e http://www.livestream.com/tvip​bbrotas

    Para maiores informações entrem em contato conosco pelo Facebook ou pelo Twitter: http://twitter.com/#!/IPBrotas

    Abraços e contamos com vocês!!!!

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  3. Podemos fazer uma analogia de sua exposição e de sua "defesa" de uma linha de conduta diante da paravra de Deus, com as metodologias de planejamento estratégico aplicadas a empresas no mercado de capital. A "Mc Adoração" e também o "Mc Evangelismo" direciona-se a um "cliente" específico. Esse método, além de elaborado cuidadosamente é por sua vez ardorosamente aceito, vemos duas faces na mesma moeda (de troca?). Por que temos tantos Mc Adoradores? Quem somos nós em uma sociedade de consumo? O que queremos verdadeiramente?
    Precisamos sim, manter o equilíbrio para distinguirmos as ondas - sua força, seu tamanho, sua cor, sua bandeira. Precisamos sim, de Deus em todo instante nos auxiliando a perceber qual é a onda.
    Muito feliz sua exposição. Oro por você todos os dias.
    Sua ovelha Ruth

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  4. Parabéns pelo texto. Muitos estão trilhando este caminho contrário à Palavra.

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