É importante saber que a palavra “shabbath”, traduzida por sábado em Êxodo 20, significa
literalmente “descanso”. Essa informação é importante, pois mostra que os
cristãos que guardam o domingo não descumprem o mandamento. Nós continuamos
descansando um dia, depois de seis trabalhados. O Shabbath seria um dia que
marca o fim da semana e a cessação do seu trabalho.[1]
Embora existam opiniões diferentes sobre se os cristãos devem
guardar ou não o sábado, a Bíblia diz que não estamos mais debaixo da Lei (Rm 6.14).
Assim, o domingo não é o sábado cristão, com uma lista de coisas que podemos ou
não podemos fazer (Rm 14.5; Gl 4.10; Cl 2.16-17). Entretanto, ao mesmo tempo,
há princípio nas leis do sábado no Antigo Testamento que podemos e devemos
aplicar hoje.
Murray afirma corretamente que “... o Shabbath... não deve ser
definido em termos de cessação das atividades, mas cessação do tipo de
atividade que fazia parte do trabalho nos outros seis dias”.[2] Domingo
é também um bom dia para investir tempo com outros crentes e tempo com o Senhor
durante os horários que estávamos ocupados durante a semana no trabalho.
Conforme a Confissão de Fé de Westminster, “Deus designou
particularmente um dia em sete para ser um sábado (descanso) santificado por
Ele; desde o princípio do mundo, até a ressurreição de Cristo, esse dia foi o
último da semana; e desde a ressurreição de Cristo foi mudado para o primeiro
dia da semana, dia que na Escritura é chamado Domingo, ou dia do Senhor, e que
há de continuar até ao fim do mundo como o sábado cristão”. Ref. Êx 20.8-11; Gn
2.3; 1Co 16.1-2; At 20.7; Ap 1.10; Mt 5.17-18. (Capítulo XXI, Do Culto
Religioso e do Domingo, Seção VII).
1. Jesus é o
Senhor do Sábado.
Quando nos voltamos para o Novo Testamento, de forma especial,
para os Evangelhos, percebemos que o foco da instituição do sábado dentro do
judaísmo é muito evidente. Assim, é possível compreender que diante de tanta
ênfase algo novo foi acrescentado ao sábado. No Antigo Testamento, o sábado era
um dia de descanso e não de adoração.[3]
Com o surgimento da sinagoga, Israel teve a oportunidade de reunir-se nas
sinagogas no dia de sábado. No entanto, mesmo tendo Jesus observado o sábado,
ele declarou ser ele mesmo o cumprimento do sábado. Isso não quer dizer que ele
não obedeceria ao mandamento do sábado, significa que, de fato, ele representa
e cumpre esse mandamento, porque é o Senhor do sábado.
Ao ser questionado pelos fariseus, quando os discípulos foram
acusados de quebrar o sábado porque haviam colhido espigas, Jesus declarou: “Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia
quero e não holocaustos, não teríeis condenado inocentes. Porque o
Filho do Homem é senhor do sábado” (Mt 12.7-8). Jesus honrou e reconheceu o
sábado, mas, ainda mais importante, ele identificou-se como o Senhor do sábado.
Mais adiante, os fariseus tentando apanhar Jesus na quebra do
sábado, questionaram se era lícito curar no sábado. Jesus respondeu: “Tendo Jesus partido dali, entrou na
sinagoga deles. Achava-se ali um homem que tinha uma das mãos ressequida;
e eles, então, com o intuito de acusá-lo, perguntaram a Jesus: É lícito curar
no sábado? Ao que lhes respondeu: Qual dentre vós será o homem que, tendo uma
ovelha, e, num sábado, esta cair numa cova, não fará todo o esforço, tirando-a
dali? Ora, quanto mais vale um homem que uma ovelha? Logo, é lícito, nos
sábados, fazer o bem. Então, disse ao homem: Estende a mão. Estendeu-a, e
ela ficou sã como a outra. Retirando-se, porém, os fariseus, conspiravam
contra ele, sobre como lhe tirariam a vida” (Mt 12.9-14).
Para os fariseus, o sábado havia se tornado uma imposição e uma
mera instituição. Contudo, somente Deus tem o direito de definir o sábado e Ele
o faz, definitivamente, em Cristo.[4]
Perceba que os fariseus estavam dispostos a tirar a vida do Senhor Jesus e
assim quebrar o sexto mandamento “não
matarás” (Êx 20.13), simplesmente porque entendiam que Jesus não cumpria o
quarto mandamento.
2. O Sábado
foi substituído pelo domingo da ressurreição.
Ao analisar a vida da igreja no Novo Testamento, não encontramos
um padrão sabatino. Em vez disso, encontramos a celebração do Dia do Senhor. Em
Atos, encontramos os fiéis reunidos no primeiro dia da semana, em plena conexão
com a ressurreição do Senhor Jesus.
Quando Paulo instruiu os coríntios a contribuir para a coleta dos
santos na Judéia no primeiro dia da semana, pressupõe que o domingo era o dia
em que eles se reuniam (1Co 16.2). Paulo em sua carta aos Colossenses instruiu
aos seus leitores dizendo que a observância do sábado não era necessária (Cl 2.16).
Inácio, bispo de Antioquia, escreveu no início do segundo século que o Dia do
Senhor deve ser observado no lugar do sábado (Ign. Magn. 9.1).[5]
É interessante observar que, a estratégia missionária de Paulo era
entrar nas sinagogas no sábado e pregar sobre Cristo aos judeus. Todavia, a
igreja se reunia no Dia do Senhor, no primeiro dia da semana.
Além do mais, cada um dos Evangelhos enfatiza a tradição que Jesus
ressuscitou no primeiro dia da semana. Essa ênfase, provavelmente, reflete a
prática litúrgica. Esta associação é especialmente clara em Lucas, onde a
história de Emaús liga o primeiro dia da semana a ressurreição de Jesus e o
partir do pão (Lc 24.13-35).
A frase “Dia do Senhor” ocorre apenas uma vez no Novo Testamento,
em Apocalipse 1.10. Uma frase similar aparece também na obra Didache (“ensino”, em grego), escrita no
final do primeiro século, provavelmente na Síria. Os leitores deste trabalho
são instruídos a se reunir no dia do Senhor para partir do pão e dar graças
(Did. 14.1).
3. O
Propósito do Dia do Senhor.
O propósito do
Dia do Senhor é o mesmo do sábado do Antigo Testamento? A resposta é não! No Novo
Testamento, o dia do Senhor é principalmente sobre adoração, sobre a pregação
da Palavra, sobre a Ceia do Senhor, onde a comunhão dos santos aponta para uma refeição
que ainda está por vir. O Dia do Senhor aponta não apenas para o passado, para
a ressurreição do Senhor Jesus Cristo, mas também aponta para frente,
escatologicamente, para aquele descanso que vamos desfrutar quando estivermos
na presença do Senhor e não houver mais nenhum trabalho.[6] “Portanto, resta um repouso para o povo de
Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo
descansou de suas obras, como Deus das suas” (Hb 4.9-10).
No céu, não haverá evangelismo, missões ou obras de caridade. Tudo
vai ser perfeito. Todos ficarão bem! Todos os olhos estarão secos e cada
lágrima será enxugada.
4. O Dia do
Senhor não é uma imposição.
O domingo (Dia do Senhor) deve ser um dia específico para um fim
específico (Is 58.1). A questão principal é o que devemos fazer em vez do que
não devemos fazer no dia do Senhor.
Há coisas que não devemos fazer no Dia do Senhor? Certamente que
sim. Qualquer coisa que venha a prejudicar nossa adoração não deve ser feita.
Tudo o que possa roubar do Dia do Senhor a prioridade da adoração, não deve ser
feito.[7] Nesse
dia, devemos nos envolver em atividades de adoração, ensino e aprendizado das
Escrituras.
Para os cristãos, este dia não é um dia de regras humanas (Cl 2.16)
para alcançar a salvação (Gl 4.9-10). Pelo contrário, é o dia do Senhor (Ap 1.10),
o dia para celebrar a ressurreição (Jo 20.1, 19) e da vinda do Espírito Santo
(At 2.1). É um tempo de renovação (Êx 20.8-11), bênção (Mt 12.9-14) e alegria (Is
58.13).
Logo, os cristãos não estão sob as leis específicas do sábado do
Antigo Testamento (Gl 4.10). Mas nos foi dado um novo dia, o “Dia do Senhor”,
para desfrutar. É um dia de culto alegre e vivo. Mas será que realmente
apreciamos como tal? Será que realmente o utilizamos o domingo para o culto e
testemunho cristão? Ou apenas fingimos fazê-lo, ao passar alguns momentos
formais na igreja e o restante assistindo futebol ou simplesmente descansando?[8]
Algumas
considerações sobre o domingo:
1.
Jesus Cristo
ressuscitou no primeiro dia da semana (Jo 20.1).
2.
Jesus após a
ressurreição apareceu aos discípulos no primeiro dia da semana (Jo 20.19, 20);
3.
A descida do
Espírito Santo no dia de pentecostes aconteceu no primeiro dia da semana (At
2.1);
4.
Os
discípulos partiram o pão no primeiro dia da semana (Atos 20.7);
5.
A evidência em
Corinto sugere que a igreja se reunia no primeiro dia da semana (1Co 16.2);
6.
Jesus
apareceu para João na ilha de Patmos no primeiro dia da semana (Ap 1.10).
7.
Os apóstolos
não permitiram que os cristãos gentios fossem obrigados a viver de acordo com
costumes judaicos (Cl 2.16-17, At 15.20, Rm 14.5-6);
8.
O início do
quarto mandamento encontra o seu propósito e realização em Cristo (Hb 4.1-16);
9.
A ausência
de uma ordem explícita para os escravos e cristãos mestres para observar o
sábado (Ef 6.5-9, Cl 3.22-4.1, 1Tm 6.2, 1Pe 2.18) sugere que o Novo Testamento não
exigia uma observação de um domingo cerimonial (ou sábado).
“... e de que, no ano sétimo, abririam mão da colheita e de toda e
qualquer cobrança” (v. 31) – Além do sábado, o povo assumiu o compromisso solene de também observar
o Ano Sabático (Lv 25.1-7, 20-22; Dt 15.1-11). Cada sétimo ano, os judeus deveriam
deixar a terra descansando para que ela pudesse se restaurar, um excelente
princípio da ecologia.[9]
Depois de sete anos sabáticos, eles deveriam celebrar o quinquagésimo ano como o
“Ano do Jubileu” (Lv 25.8). Nesse ano a terra não era cultivada; todas as
terras vendidas ou confiscadas eram devolvidas aos seus donos anteriores; e
todos os escravos eram libertados (Lv 25.8-55; 27.16-25).
A nação não tinha fielmente celebrado estas observâncias especiais
sabáticas. Esta foi uma das razões por que Deus enviou-os ao cativeiro (2Cr 36.21),
para que pudessem dar a terra 70 anos de descanso (Jr 29.10).
[1] CARSON, D. A. (organizador), Do Shabbath para o Dia do Senhor. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2006, p. 23.
[2] MURRAY, John. Principles of Conduct (Grand Rapids: Eerdmans, 1957), p. 33.
[3] MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do Fogo, Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 68.
[4] MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do Fogo, Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 70.
[5] Achtemeier, P. J.,
& Society of Biblical Literature. (1985). Harper’s Bible dictionary (1st ed.) (574–575).
San Francisco: Harper & Row.
[6] MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do Fogo, Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 74.
[7] MOHLER Jr. R. Albert. Palavras do Fogo, Como ouvir a voz de Deus nos Dez Mandamentos. São
Paulo: Editora Cultura Cristã, 2010, p. 76.
[9] Wiersbe, W. W.
(1996). Be Determined. “Be”
Commentary Series (123). Wheaton, IL: Victor Books.
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